Síndrome de Clèrambault


A Síndrome de De Clèrambault ou simplesmente Síndrome de Clèrambault (ou erotomania) consiste na convicção delirante, por parte do paciente, de que alguém de posição social mais elevada o ama.

Foi descrita pelo psiquiatra francês de mesmo nome em 1921.


EPIDEMIOLOGIA

Os pacientes do sexo feminino predominam nas amostras clínicas gerais; porém, em amostras forenses, a maioria dos pacientes é do sexo masculino. Comumente, não é detectada como uma síndrome específica, sendo anexada a categorias psiquiátricas maiores.

Apesar de ter sido observada uma significante história familiar da doença em pacientes erotomaníacos, os estudos realizados até o momento não demonstraram nenhuma causa genética para ela.

A ocorrência de erotomania em deficientes mentais parece ser muito rara.


ETIOLOGIA

Não há consenso entre as causa psicodinâmicas para a ocorrência desta síndrome.

As teorias biológicas a respeito são mais uníssonas e mencionam o envolvimento do sistema límbico na produção deste fenômeno. Interpretações inadequadas do meio poderiam ser causadas por anormalidades límbicas. O conteúdo específico do delírio, entretanto, seria determinado pela cultura e pelas experiências pessoais de cada paciente. O desenvolvimento dos delírios pode originar-se de percepção ou interpretação anormais do meio, mas a manutenção de uma crença delirante, em face de informações distorcidas, tem sido atribuída a um funcionamento deficiente do sistema frontal. O lobo pré-frontal desempenha um importante papel no automonitoramento e nos testes de realidade. A integridade dessas funções é crítica para o reconhecimento das interpretações delirantes, que ocorrem, com maior probabilidade, em pacientes privados de relacionamentos íntimos, porém altamente motivados a tais experiências.


CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

Nas descrições clássicas, o surgimento dos delírios é abrupto, o que nem sempre é observado na prática clínica

De Clèrambault descreveu a erotomania como uma síndrome de emoções patológicas que segue uma evolução ordenada, passando pelos estágios de esperança, despeito e rancor. Essa evolução foi considerada por ele como invariável, sendo a fase de rancor a mais importante delas e, na verdade, o que mais bem caracteriza toda a síndrome, ao invés do estágio de amor.

Então o portador da erotomania acredita que o seu objeto de amor declarou-se para ele, de alguma maneira: por sinais , telepaticamente, ou frases ditas ao público mas que o portador acredita ter sido direcionadas a ele.

Depois disto, o portador que inicialmente poderia não corresponder ao amor que acredita ter sido declarado primeiramente pelo outro, passa interessar-se e corresponder e tentar demonstrar este amor, seduzindo seu objeto amado, declarando-se, etc.. O paciente pode desejar ter relações sexuais com o objeto de seu amor delirante, pode tentar seduzi-lo para esse fim ou passar a acreditar, inclusive, que está gestando um filho dele. Os homens tendem mais à perseguição de seus objetos que as mulheres.

Embora atos físicos ou sexuais sejam incomuns, esses pacientes podem trazer significativo impacto psicológico e social à vida de suas vítimas, em conseqüência de perseguições por períodos prolongados, que variam de chamadas telefônicas a declarações de amor em ambientes públicos e movimentados.

Diante da percepção do envolvimento do ser amado com terceiros surge o despeito e diante de sua rejeição, o rancor. Quando o paciente erotomaníaco alcança o estágio de rancor, depois de repetidas rejeições que sofre, não raro exerce retaliações contra seu objeto de amor ou contra terceiros.

O típico portador da erotomania pode ser homem ou mulher, leva uma vida reservada, socialmente inexpressiva; poucos são casados, muitos são privados de contato sexual por anos, a maioria ocupa cargos subalternos, e alguns são muito pouco atraentes. Esse comportamento pode resultar de traços de personalidade hipersensível, desconfiança acentuada ou assumida superioridade em relação às outras pessoas. Por outro lado, os objetos de amor delirante, na realidade ou em fantasia, são sempre superiores em inteligência, posição social, aparência física, autoridade ou uma combinação destes atributos. Quase sempre, o paciente sente-se como que livrado de sua solidão pelo amor que o objeto supostamente lhe dedica.


DIAGNÓSTICO

Esta síndrome pode apresentar-se em diversos transtornos mentais: transtorno delirante persistente, esquizofrenias, transtorno afetivo bipolar.

Ellis e Mellsop sugeriram os seguintes critérios operacionais para o diagnóstico de erotomania:
  • convicção delirante de comunicação amorosa; objeto de muito alta posição (social);
  • o objeto do amor delirante é o primeiro a se "apaixonar;
  • o objeto do amor delirante é o primeiro a tentar avanços amorosos; início súbito dos delírios (em até sete dias);
  • objeto fixo do amor delirante (se outros surgirem, terão significado apenas transitório);
  • o paciente racionaliza o comportamento paradoxal do objeto de seu amor;
  • curso crônico do quadro;
  • ausência de alucinações (se presentes, devem ser tácteis e claramente relacionadas com a erotomania).

CURSO E PROGNÓSTICO

A erotomania é uma doença crônica, relativamente refratária ao tratamento, tanto farmacológico, quanto psicoterápico. Em alguns casos, a doença chega a ser incapacitante.

Há um caso relatado de um profissional de saúde que foi processado por sua paciente (erotomaníaca), sob a acusação de tê-la molestado sexualmente.

Existe um potencial para comportamento violento e vingativo em pacientes erotomaníacos, com taxas de comportamento agressivo chegando a 57% em amostras de pacientes do sexo masculino extraídas de arquivos da prática forense.


TRATAMENTO

Com uso de antipsicóticos (neurolépticos): que podem variar em relação à dose e substância.

Casos que não respondem à medicação têm indicação de eletroconvulsoterapia - ECT.

Casos graves, que não podem ser manejados ambulatorialmente têm indicação de internação.



BIBLIOGRAFIA

  1. Calil Luís Carlos, Terra João Ricardo. Síndrome de De Clèrambault: uma revisão bibliográfica. Rev. Bras. Psiquiatr. [serial on the Internet]. 2005 June ; 27(2): 152-156.
  2. Sampaio Thais de Moraes, Andrade Arthur Guerra de, Baltieri Danilo Antônio. Síndrome de Clérambault: desafio diagnóstico e terapêutico. Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul [periódico na Internet]. 2007 Ago [citado 2009 Out 04] ; 29(2): 212-218.

2 comentários:

Coala Fumegante disse...

O que faço com um erotomaníaco que me persegue há quase 14 anos? Ele é tão sutil em sua perseguição, que jamais me ofereceu indícios para processá-lo. Descobriu onde moro, culpa as pessoas ao meu redor por "fazerem" minha cabeça contra ele e eu já disse de todas as formas que não tenho, nem nunca tive interesse por ele. Não sei mais o que fazer. Tenho medo de que ele possa fazer algum mal às pessoas ao meu redor.

dicionariodesindromes disse...

Olha, sinceramente?
Procure um advogado, certamente ele poderá lhe orientar melhor. E até lá se afaste, se exponha menos e poste o menor número de informações possível a seu respeito on-line.

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